A meditação, caracterizada como o treino da atenção plena à consciência do momento presente, tem sido associada a um maior bem-estar físico, mental e emocional (Shapiro, Schwartz, & Santerre, 2005). Esta prática teve origem nas filosofias espirituais do Oriente, mas especialmente a partir da década de 60 o movimento de trazê-la para o Ocidente ganhou força. Assim, juntamente com a crescente busca pela prática pessoal, também houve um maior interesse científico por ela. Desde então, uma das áreas de maior interface com a meditação e as filosofias relacionadas é a psicologia.
Mais recentemente, a meditação tem sido bastante pesquisada e empregada na linha da psicologia cognitivo-comportamental. Além de influenciar mudanças comportamentais, como a redução do estresse e ansiedade (Grossman, Niemannb, Schmidtc, & Walachc, 2004), a meditação, assim como a psicologia cognitiva, caracteriza-se pela premissa fundamental de que a interpretação dos fatos é mais importante do que os fatos em si. Por esta razão, a prática meditativa tem sido descrita como uma forma de treinamento mental através da qual se busca educar a mente.
UM PEQUENO EXERCÍCIO
Procure se sentar de maneira confortável. Pode ser em uma cadeira, em um sofá, onde quer que você se sinta estável e acomodado o bastante para permanecer sem se mexer por algum tempo. Feche os olhos e, por 5 minutos, apenas perceba o que acontece. Não é preciso fazer mais nada – nem relaxar, nem respirar de determinada forma, nem visualizar nada. Apenas fique em silêncio, e perceba: o que você sente? Existem sensações físicas possíveis de se perceber? Como está o seu corpo? E suas emoções? Você está sentindo alguma coisa? Como é sentir isso? Como sua mente reage a essa percepção? Muitos pensamentos? Você “embarca” nestes pensamentos com facilidade? É possível não ceder a eles e continuar conectado ao seu corpo, experienciando tudo o que acontece dentro de você?
É bem possível que esses curtos 5 minutos lhe pareçam uma ETERNIDADE. É bem possível que você se sinta impaciente . Ou pode ser que você “viaje” nas sensações, se perca em memórias, ou que simplesmente fique insistentemente pensando no que afinal você precisa fazer amanhã. Tudo isso é alvo de atenção. Tudo isso é você acontecendo. E muitas coisas podem ser desagradáveis – como a impaciência, dores físicas, e outras das infinitas possibilidades de experiência humana. TUDO alvo de atenção. Absolutamente tudo.
Não é de se surpreender que, portanto, começar a praticar a atenção plena possa exigir um grau alto de dedicação, disciplina e muita coragem . Assim, você pode iniciar pequenos exercícios no seu dia-a-dia, sem qualquer pretensão de alterar nenhuma emoção, apenas estando consigo mesmo e se observando, observando os seus sentimentos, seus pensamentos e sua forma de reagir a eles.
Pode parecer, a princípio, que isso não é “meditar”, especialmente se você carrega consigo ideias sobre a meditação que sejam pouco correspondentes com a realidade – como por exemplo, de que meditar é “esvaziar a cabeça”, “se iluminar” ou ter uma grande “revelação”. Pode ser que isso aconteça, como pode ser que não aconteça. Na verdade, essa não é a nossa primeira intenção, ao menos se estivermos considerando que estamos trabalhando nossa atenção e presenças absolutas, e nada mais.
Assim, um ponto fundamental dentro da prática é a sua expectativa. Curioso paradoxo: embora se espere que a meditação ajude você a ter mais qualidade de vida, na hora de praticar é mais recomendável que você se mantenha isento de ideias sobre o que deve e o que não deve acontecer. Isso porque nossa experiência emocional é tão variada e flutuante que pode ser que, num dia, a meditação traga paz e tranquilidade, e que no outro, você entre em contato com sentimentos aversivos. E se você se mantiver aberto à experiência, sem julgar, sem se assustar, sem se esquivar, poderá sentir que inclusive estas emoções desagradáveis tendem a amenizar com a prática contínua.