Alteração no paladar de idosos

26/11/2019 | CER Informa

Na terceira idade, o fator mais relevante que interfere no consumo alimentar é a redução da sensibilidade dos gostos primários ou básicos (azedo, salgado, doce e amargo). Essa redução se deve à perda fisiológica dos botões gustativos, que diminuem substancialmente de 250 para 100, acarretando uma maior tendência em concentrar os temperos como sal e o açúcar, para ajustá-los ao paladar.

A polimedicação (uso de quatro ou mais medicamentos/dia), também está diretamente relacionada aos distúrbios gustativos, além disso, outros fatores podem contribuir para alteração na percepção do paladar, como doenças crônicas, o uso de próteses dentárias, presença de saburra lingual e tabagismo.

O idoso apresenta maior predisposição a um consumo aumentado de medicamentos. Associado a isso, mudanças fisiológicas tais como a modificação da composição corporal e a redução das funções renal e hepática, fazem com que estejam suscetíveis, com maior frequência, a efeitos adversos ou terapêuticos mais intensos.

Os mecanismos responsáveis pela alteração do paladar, decorrente do uso de medicamentos, ainda são pobremente compreendidos.  Algumas suposições podem elucidar tais alterações, como o gosto da própria droga, dano aos receptores das papilas gustativas e xerostomia (boca seca), a qual limita o acesso das substâncias aos receptores gustativos. Os idosos que possuem uma ou mais doenças tomam em média 3 medicações distintas, o que eleva em cerca de 11 vezes o limiar para o sódio, 7 vezes para o amargo, 4 para o ácido e 3 para o sabor doce. Estudos mostram que dentre as classes de medicamentos, destacam-se os anti-hipertensivos como potenciais modificadores do paladar, mais especificamente os chamados betabloqueadores e diuréticos.

A fim de minimizar os efeitos dos distúrbios de paladar, algumas medidas e orientações simples podem trazer grandes benefícios para os idosos, dentre elas: aumentar a ingestão hídrica; utilizar alimentos com texturas diferentes, na tentativa de estimular a inervação sensitiva da boca; alternar de um alimento para outro durante a refeição, pois isso pode ajudar a impedir ou neutralizar o fenômeno da adaptação sensorial; estimular a mastigação adequada dos alimentos e ao preparar refeições, utilizar alimentos que estimulam o paladar como, por exemplo, condimentos e temperos naturais.

Outra dica é apostar em alimentos umami – um dos cinco gostos básicos do paladar humano –, como tomates, queijos, cogumelos, entre outros.  Um dos principais benefícios do umami para os idosos é o auxílio na saúde bucal, pois esse gosto estimula a salivação e aumenta também a sensibilidade ao sabor, auxiliando o consumo de alimentos que acabam excluídos da dieta do idoso.

O glutamato monossódico, ingrediente facilmente encontrado em supermercados, é uma alternativa para realçar o sabor das refeições. Esse sal apresenta baixa concentração de sódio quando comparado ao sal de mesa, sendo benéfico no controle da ingestão desse mineral, o que auxilia também na prevenção e o controle da hipertensão. Uma sugestão no preparo dos alimentos é substituir metade da quantidade utilizada do sal de cozinha, pelo glutamato monossódico, o que leva a uma redução de 25% a 37% na concentração de sódio no prato, sem perder a aceitação do paladar.

O conhecimento das alterações fisiológicas do sistema gustativo no envelhecimento, dos efeitos adversos que medicamentos podem ocasionar e da importância da mudança de alguns hábitos alimentares ajudam a prevenir e impedir que a população idosa sofra com esses males. Diante disso, torna-se importante pensar em planejamento de estratégias de atendimento, sejam eles individuais ou multiprofissionais, e intervenções adequadas à realidade desses indivíduos, contribuindo assim para um processo de envelhecimento mais saudável.

 

Farmacêutica: Jessica de Oliveira Moreira

Preceptora: Danielle Mandacaru

Nutricionista: Mayara M. de Azevedo Silveira

Preceptora: Rosenele C. Araújo

 

Referências:

 

Alimentos umami. Portal Umami, 2019.  Disponível em: http://www.portalumami.com.br/alimentos-umami/. Acesso em: 18 de nov. 2019.

BENTO, Fernanda Cristina de Jesus Colares. Sensibilidade ao sabor amargo e sua influência sobre o consumo e frequência alimentar em idosos. Dissertação de Pós-Graduação. Universidade Católica de Brasília. Brasília, 2009.

LOPES, Ana Carolina Freire et al. Prevalência de alterações gustativas em idosos em uso crônico de fármacos. Geriatrics, Gerontology and Aging, v. 9, n. 4, p. 132-137, 2015.

PAULA, Roberta S. et al. Alterações gustativas no envelhecimento. Revista Kairós, São Paulo, v.11, n.1, p.217-235, jun.2008.