02 DE ABRIL: Dia Mundial de Conscientização do Autismo
Chegamos a mais um “02 de abril”. Essa data, para nós que estamos em contato direto com pessoas com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é muito importante, pois é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.
Todos os dias, na rotina de trabalho no CER, vivenciamos a importância de conhecermos, pesquisarmos e aplicarmos os conhecimentos adquiridos no tratamento da pessoa com TEA, mas acima de tudo, identificamos a cada atendimento, como é necessário divulgar informações corretas, coerentes e esclarecedoras.
A prevalência do TEA é crescente e em 10 anos teve um aumento muito significativo, chegando a 1 em 54 nos Estados Unidos.
No Brasil não temos números oficiais, devido à escassez de estudos de prevalência. Na experiência clínica, observamos a maior procura por tratamento tão logo se identifiquem os primeiros sintomas e assim, também observa-se o aumento de diagnósticos.
Neste dia 02 de Abril, o que queremos, considerando a pandemia de Covid-19, é clamar por um olhar mais atento e menos preconceituoso sobre o TEA. Mas, por quê isso?
Porque a humanidade está sendo obrigada a mudar hábitos e ao mesmo tempo manter rituais, regras e comportamentos de forma rígida, o que é característico e natural para muitas pessoas com TEA.
E assim, sem medo de fazer uma comparação que pode soar grosseira, pois infelizmente estamos acostumados a ver o termo “autista” ser tantas vezes utilizado de forma pejorativa, escolhemos como exemplo, os relatos de quem vive a realidade do autismo e levanta uma importante bandeira todos os dias, contra a desinformação e o preconceito.
A melhor forma de se aprender, é na prática.
Por tempo indeterminado estamos experienciando o autismo.
Muitos autistas gostam de se isolar, outros, detestam, mas não tem opção.
Muitos autistas não gostam de contato físico, beijos, abraços, apertar mãos pode ser um prazer ou sacrifício.
Muitos autistas evitam situações sociais por medo de não serem compreendidos, ou pelos transtornos sensoriais.
Muitos autistas tem hiperfoco e falam sobre seu assunto de preferência o tempo todo.
No mês da conscientização do autismo, melhor workshop não há.
(Fátima de Kwant – @fatimadekwant)
Certamente, o TEA não se reduz a isso e a autora citada, demonstra bem, que nem todos os autistas apresentam tais características. O TEA é um transtorno de um espectro bastante amplo. Cada pessoa tem suas particularidades, assim como cada ser humano é único.
Com essa comparação só queremos instigar uma reflexão. Por trás de cada comportamento, cada característica, cada gesto ou decisão tomada, há um ser humano. Seja ele autista ou não, chegamos a um momento em que o contato físico precisa ser questionado, a rotina regularizada e sim, hábitos precisam ser implantados e executados de maneira rígida.
Dessa forma, antes de ridicularizar e principalmente, tentar mudar aquilo que não compreendemos, que tal uma observação e escuta mais atentas?
Hoje estamos tendo mais tempo para nos voltarmos para nós mesmos. O “ficar em casa”, está sendo feito com a importância devida? Será que reconhecemos a dificuldade de tantas mães que não podem sair com seus filhos à rua devido a problemas comportamentais dos mesmos e os olhares fuzilantes dos outros?
Hoje, qualquer pessoa é um “risco iminente”, pois não sabemos quem está contaminado pelo coronavírus. Quem sai às ruas, por qualquer motivo, está se submetendo a um julgamento de todos (está saindo por necessidade?).
Remetendo a isso, será que quando não havia restrições quanto a mobilidade urbana, respeitávamos todos aqueles que encontrávamos na rua e que apresentavam comportamentos disfuncionais pouco “adequados socialmente” (gritos, estereotipias, maneirismos diversos, birras, crises)?
Quando a pandemia tiver fim, o que será que teremos aprendido?
Respeito, consideração, empatia, solidariedade, amor? Neste 02 de Abril, assim como em todos os dias do ano, em nossa prática profissional e convivência diária é isso que desejamos que cada pessoa com autismo e sua família encontrem em seus caminhos.
Novamente, queremos ressaltar, que além das terapias, nosso trabalho se pauta em incentivar o conhecimento, a participação ativa das famílias e o fortalecimento contra qualquer espécie de preconceito, pois é somente através da informação, do conhecimento, da empatia e do respeito que a exclusão pode ter fim. Sigamos! Rumo à inclusão!